A estratégia dos candidatos este ano segue a linha de tentar agradar ao número máximo de subgrupos específicos, que infelizmente é a direção individualista para a qual a maioria das democracias está caminhando. Neste post, tentei resumir as propostas com base nos temas com maior destaque ou mais repetidos nos planos de governo, com o objetivo de ignorar esses acenos a grupos de interesse. A ordem dos candidatos está apresentada de acordo com a sua intenção de voto nas pesquisas. Os planos estão disponíveis no site do TSE.
Russomano
Eu desconfio
que o capítulo sobre saúde foi o TCC de um aluno de graduação, devido ao abuso
do senso comum e aos dados que parecem retirados da Wikipedia. A candidatura aparentemente tem como objetivo fazer com que a saúde “funcione de forma eficiente e
resolutiva, adotando adequado sistema de gestão e organização”, mas não fornece pistas sobre o que isso significa.
Por outro
lado, o projeto menciona que a taxa de mortalidade infantil será
o principal foco do candidato, o que eu apoio fortemente. A mortalidade infantil ( < 1
ano de idade) é um ótimo indicador da situação de saúde devido à alta vulnerabilidade
dos recém-nascidos aos fatores externos. O candidato promete “aprofundar o
alcance” da meta referente à mortalidade infantil presente nos Objetivos do
Milênio, mas não menciona que o prazo era 2015 e o Brasil a alcançou.
Em geral, o
projeto tem muitas críticas banais à atual gestão e promessas de fazer melhor,
mas poucas metas concretas. Segundo o plano de governo, para melhorar a saúde “não é necessário empreender
nada mirabolante”. Dou nota 6 para esse TCC.
Marta
O plano de
governo da Marta é o oposto. Uma imensa lista de metas, sem tempo para as
platitudes do plano Russomano. A primeira meta é informatizar o sistema de
saúde por meio do prontuário eletrônico, o que eu acho excelente. O potencial da digitalização da saúde em diminuir a repetição de exames, as filas para consultas
e os erros de diagnóstico é imensa. O projeto promete também criar o Prontuário
Eletrônico do Paciente, que na verdade já existe e é a grande marca do atual prefeito na área
da saúde.
A segunda
meta é criar uma coordenadoria para fiscalizar as Organizações Sociais (OSs), o que também é interessante. As OS têm um potencial de melhorar a atenção à saúde,
mas se continuarem desreguladas num ambiente sem competição, continuarão a
reproduzir os mesmos erros dos outros modelos de atenção.
Foram
incluídas mais algumas dezenas de metas para a área da saúde, algumas boas,
outras pouco relevantes, mas nenhuma polêmica.
Haddad
Como
esperado, o plano do Haddad não poupa elogios ao Haddad. No capítulo sobre
saúde, são incluídas como conquistas a criação de ciclovias e parques e a diminuição
da velocidade nas Marginais. Os avanços na atenção à saúde são eventualmente mencionados
e os principais são consequência da informatização do sistema, como a
Rede Hora Certa, o Aqui tem Remédio e o prontuário eletrônico.
Em relações
às metas específicas, a primeira é “estabelecer a participação e controle social como método
de governo, fortalecendo os Conselhos e as Conferências de Saúde”, o que eu considero
uma queda em relação às prioridades dos outros candidatos. De resto, as metas
são direcionadas para ampliar os programas da atual gestão, o que pode
indicar um cansaço administrativo e de ideias.
João Dória
O plano de
governo do João Dória segue a linha de bullet points, o que me agrada, mas o conteúdo é um
pouco frustrante. Os tópicos iniciais são comentários gerais sobre a melhoria
da atenção à saúde. O primeiro ponto específico é acelerar a informatização da
saúde, um tema que eu acho muito importante, como mencionado
anteriormente. Assim como Marta, Dória promete a implantação do prontuário
eletrônico integrado, que já existe e só precisa ser ampliado. O objetivo,
segundo o plano, é evitar a “duplicação de exames e procedimentos que encarecem
e sobrecarregam o sistema de saúde”, que é um bom diagnóstico dos problemas do nosso sistema de saúde e que tem o apoio de todos os economistas da saúde.
A meta
seguinte é unificar o gerenciamento das vagas de internação com o governo do
Estado. Isso parece uma boa ideia para os próximos dois anos, mas vai gerar muitas brigas desnecessárias se um outro partido for eleito no
futuro. Além de uma menção breve sobre um programa de atendimento a usuários de
drogas, chamado de Recomeço, as outras metas são referentes a melhorias da
gestão de saúde sem muitos detalhes.
Conclusão: na minha opinião, o melhor plano de governo, considerando somente a
área da saúde, é o da Marta.
Nota: a
candidata Luiza Erundina foi desclassificada por propor a "criação do Imposto Voluntário”, cujos recursos "serão destinados a um fim, claramente
determinado”.
Primeiramente, obrigado e parabéns pela compilação/resumo dos programas dos candidatos.
ReplyDeleteSe puder, me tire uma dúvida: no programa de TV, o Doria diz que vai encaminhar, no período noturno, alguns usuários do SUS a hospitais privados (que estariam ociosos nesse horário, segundo ele). O que você acha dessa medida?
Abs