A primeira
regra da economia é que as pessoas respondem a incentivos. Isso parece um pouco
óbvio, mas é surpreendente como é mal explorada por empresas e pelo governo.
Vou dar um exemplo da minha realidade, a Universidade de São Paulo. Há uns anos, em época de vacas gordas, a reitoria da USP decidiu distribuir um bônus
aos professores. Era uma situação perfeita para incentivar as atividades que a reitoria
achasse prioritárias no momento. Em vez disso, foi dado o mesmo exato bônus a
todos. Alguns meses depois foi enviado um email aos professores sobre a
importância de iniciarmos novas colaborações internacionais. Que grande
oportunidade perdida para incentivá-las.
A área da
saúde é provavelmente aquela que pior utiliza
incentivos econômicos para estimular comportamentos de seus trabalhadores. O
problema começa pelo sistema de reembolso dos gastos em saúde no
Brasil, o de conta aberta, onde os hospitais recebem de acordo com o número de
procedimentos realizados, em vez de ser proporcional à qualidade do atendimento
prestado ou à satisfação do paciente. O incentivo econômico do sistema de conta
aberta é claro: quanto maior o número de procedimentos, maior o lucro.
Entretanto, mesmo dentro do sistema de conta aberta, há muitas oportunidades de usar incentivos econômicos para incentivar comportamentos desejáveis. Um exemplo é o problema atual de epidemia de cesáreas. O Brasil é conhecido internacionalmente
na área de saúde materno-infantil por ter uma das maiores taxas de cesáreas do
mundo. Trata-se certamente de um problema multifatorial, mas talvez a principal
razão seja o efeito dos incentivos econômicos vigentes, principalmente o fato
de o médico receber pelo parto normal, que é mais trabalhoso, praticamente o mesmo que recebe por uma cesárea.
Uma iniciativa
recente promovida pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para
aumentar a proporção de partos normais já está apresentando resultados promissores.
Foram feitas duas mudanças simples, porém precisas: aumento da remuneração do
parto normal e pagamento de um bônus para quem atinge a meta de partos normais. Segundo
os envolvidos no projeto, a proporção de partos normais nos 40 hospitais
participantes já subiu 9 pontos percentuais em menos de um ano. Isso pode com o tempo levar a uma mudança da "cultura de cesáreas" dos hospitais, melhorando a
estrutura dos parto normais e incentivando ainda mais profissionais a aderirem
nos próximos anos.
As pessoas
respondem a incentivos. Uma regra tão simples, mas tão desprezada.
Olá Alexandre Chiavegatto! Seu blog está com excelentes artigos!!
ReplyDeletePorém poderia perguntar uma coisa? Os sistemas de saúde pública no mundo possuem modelos que poderiam ser replicados no Brasil? Singapura ou até mesmo os EUA? Muito obrigado pela atenção,
João Carlos Soarez
Adorei o texto e já compartilhei com meus colegas do mestrado.Estamos fazendo uma disciplina sobre Visão interdisciplinar do parto e falávamos justamente sobre isso ontem - o valor pago ao parto normal, se comparado ao cesariano, como forma de diminuir a incidência de parto cirúrgio.
ReplyDeleteOi João Carlos - o nosso sonho é que houvesse um sistema perfeito, que pudesse ser replicado por todos. O problema é que os países são muito diferentes, tanto culturalmente quando socioeconomicamente. Com isso em mente, o sistema de saúde parecido ao nosso que funciona melhor é o do Reino Unido. É bem mais complexo que o brasileiro, mas obtém resultados muito bons.
ReplyDeleteElenilde - obrigado pela divulgação! É muito importante para o blog. Abraços!