As decisões
baseadas em algoritmos são a grande esperança para diminuir o efeito do preconceito
humano na tomada de decisões. Milhares e milhares de estudos apontam que
minorias e mulheres são consistentemente discriminadas por policiais, juízes,
empresários e por todas as outras profissões com decisões
subjetivas sobre punições e promoções.
A definição
de critérios pré-estabelecidos por parte de algoritmos de machine learning traz
a promessa de decisões livres de preconceitos, mas notícias recentes têm
demonstrado que ainda temos um longo caminho a percorrer. O problema começa com
quem está criando esses algoritmos de machine learning, caracterizado em um artigo
recente do New York Times como “artificial intelligence's white guy problem”. A
falta de consciência social por parte dos criadores desses algoritmos tem levado
a alguns escândalos recentes.
Por exemplo, algoritmos
de machine learning têm sido muito utilizados nos EUA para predizer risco
de reincidência criminal, com o objetivo de auxiliar na tomada de decisão por
parte dos juízes. Recentemente, entretanto, têm sido encontrados indícios de que
os algoritmos consistentemente predizem maior risco de reincidência para negros, como mencionado em uma reportagem recente da The Atlantic. Isso
faz sentido, já que, para um mesmo exato crime cometido, negros têm maior chance de serem
condenados do que brancos. Assim, o algoritmo estaria contribuindo para que essa
desigualdade que existe há décadas no sistema criminal se mantenha para sempre.
Nesse caso,
a solução é clara. Ninguém quer que algoritmos perpetuem injustiças históricas,
o que significa que esses algoritmos precisam ser corrigidos. Por outro lado,
existem alguns problemas mais complexos que teremos de enfrentar em breve. Não
estamos muito longe, por exemplo, de serem utilizados algoritmos para identificar
prioridades para a realização de cirurgias, com o objetivo de selecionar
pacientes que se beneficiarão mais do procedimento.
Isso pode
se tornar um grande problema. A tendência inicial do algoritmo será
necessariamente selecionar pacientes de maior renda, já que esses têm mais
tempo e recursos para a recuperação completa e, portanto, apresentarão maiores
benefícios da cirurgia. Do ponto de vista de eficiência pura faz sentido priorizar
essas pessoas, mas será que é isso mesmo que queremos? A existência desses "algoritmos
preconceituosos" já é uma realidade, o que traz a necessidade da introdução de
indicadores de equidade aos modelos. Com isso, em uma situação em que dois pacientes tenham uma predição de taxa de recuperação parecida, seria dada prioridade para o paciente
com renda mais baixa.
Com a
automatização das decisões por meio de algoritmos, os indicadores de
equidade serão o motivo de um grande número de brigas ideológicas. Por um lado,
libertários dirão que a eficiência deve ser o objetivo, por outro lado, progressistas
dirão que a prioridade deve ser a justiça social, mesmo que isso leve a um pior
resultado agregado.
Não estamos
muito longe desse futuro. Se você costuma participar de manifestações de rua, você provavelmente ainda vai levantar muitos cartazes com a sua opinião sobre os indicadores
de equidade.
Nunca havia pensado desta forma. A busca por eficiência pode gerar questões interessantes. Guiar-se através de algoritmos quando se trata de saúde pode gerar um debate ferrenho como o escrito no post. Visto o nível de debate quando se envolve o SUS, a discussão não será tranquila.
ReplyDeleteParabéns pelo blog!
ReplyDelete